“Queimem a bruxa”
Operações midiáticas na cruzada moral contra a “ideologia de gênero” no Brasil
DOI :
https://doi.org/10.30962/ec.2551Mots-clés :
Circulação, Redes Digitais, Pânico Moral, Judith ButlerRésumé
Este artigo examina operações midiáticas do acontecimento #ForaButler para compreender a fabricação da cruzada moral contra a “ideologia de gênero” no Brasil. O objetivo é refletir sobre essas operações através dos rastros materializados nas redes. Realizam-se três movimentos metodológicos: contextualização da noção de “ideologia de gênero”, identificação do campo problemático do acontecimento e reconstrução das operações. A análise aponta que, na cruzada moral contemporânea, a condenação pública da bruxa e sua execução na fogueira operam na reconfiguração das arenas morais públicas, na necessidade de conversão de capitais morais e na velocidade de produção e circulação nas redes digitais.
Téléchargements
Références
AGUIAR, T. Vídeo não mostra professoras obrigando menino a usar batom. Lupa, 1 nov. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2PcElYy>. Acesso em: 25 jul. 2021.
ALBUQUERQUE, A.; QUINAN, R. Crise epistemológica e teorias da conspiração: o discurso anticiência do canal “Professor Terra Plana”. Mídia e Cotidiano, Niterói, v. 13, n. 3, p. 83-104, 2019.
ALMEIDA, R. A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo. Cadernos Pagu, Campinas, n. 50, e175001, 2017.
ALVES, M. Desarranjo da visibilidade, desordem informacional e polarização no Brasil entre 2013 e 2018. 399 f. 2019. Tese (Doutorado em Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
BALIEIRO, F. F. “Não se meta com meus filhos”: a construção do pânico moral da criança sob ameaça. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, e185306, 2018.
BECKER, H. Outsiders: estudos da sociologia do desvio. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
BETIM, F. As vozes da pequena grande batalha do Sesc Pompeia. El País, 7 nov. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/3jyPw9a>. Acesso em: 25 jul. 2021.
BOLSONARO, J. M. Seguem algumas opções de excelentes canais de informação no youtube!. Brasil, 12. nov. 2018. Twitter: @jairbolsonaro. Disponível em: <https://bit.ly/38UDGSL>. Acesso em: 25 jul. 2021.
BRUM, E. Como fabricar monstros para garantir o poder em 2018. El País, 31 out. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/30SY8iE>. Acesso em: 25 jul. 2021.
______. “Fui morto na internet como se fosse um zumbi da série The Walking Dead”. El País, 12 fev. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2QdzYx6>. Acesso em: 25 jul. 2021.
BUTLER, J. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução de Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
CAVAZZOLA JR., C. A. Santander Cultural promove pedofilia, pornografia e arte profana em Porto Alegre. Lócus, 6 set. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/3dUcy9M>. Acesso em: 25 jul. 2021.
CLARK, S. Pensando com demônios: a ideia de bruxaria no princípio da Europa Moderna. Tradução de Celso Mauro Paciornick. São Paulo: Edusp, 2006.
COHEN, S. Folk Devils and Moral Panics: the Creation of the Mods and Rockers. Nova York: Routledge, 2011.
CÓRDOVA, Y. Como o YouTube se tornou um celeiro da nova direita radical. The Intercept Brasil, 10 jan. 2019. Disponível em: <https://bit.ly/3cKecbY>. Acesso em: 25 jul. 2021.
CORRÊA, S. Gênero ameaça(N)do – Sônia Correa: “Ideologia de gênero”: rastros perdidos e pontos cegos. 2017. (31m42s). Disponível em: <https://youtu.be/VWBj6GX2Umo>. Acesso em: 25 jul. 2021.
______. A “política do gênero”: um comentário genealógico. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, e185301, 2018.
DESLANDES, K. Formação de professores e Direitos Humanos: construindo escolas promotoras da igualdade. Belo Horizonte: Autêntica; Ouro Preto: Editora UFOP, 2015.
EDER, J.; KLONK, C. Introduction. In: EDER, J.; KLONK, C. (Ed.). Image Operations: Visual Media and Political Conflict. Manchester: Manchester University Press, 2017. p. 1-22.
ELIADE, M. Ocultismo, bruxaria e correntes culturais: ensaios em religiões comparadas. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.
ESTEVES, B. O algoritmo da ágora. Piauí, jan. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/2Qblaio>. Acesso em: 25 jul. 2021.
FAUSTO NETO, A. Como as linguagens afetam e são afetadas na circulação?. In: BRAGA, J. L. et al. (Orgs.). Dez perguntas para a produção de conhecimento em comunicação. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2019. p. 45-66.
FEDERICI, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução de Coletivo Sicorax. São Paulo: Elefante, 2017.
FISCHER, M.; TAUB, A. How YouTube Radicalized Brazil. The New York Times, 11 ago. 2019. Disponível em: <https://nyti.ms/3eOh4qS>. Acesso em: 25 jul. 2021.
GOODE, E.; BEN-YEHUDA, N. Moral Panics: the Social Construction of Deviance. Chichester: Wiley-Blackwell, 2009.
HENN, R. Jornalismo em rede, conectividades e as reconstituições dos memes do fascismo. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, 17., 2019, Goiânia. Anais... Goiânia: SBPJor, 2019.
JUNQUEIRA, R. D. A invenção da “ideologia de gênero”: a emergência de um cenário político-discursivo e a elaboração de uma retórica reacionária antigênero. Psicologia Política, São Paulo, v. 18, n. 43, p. 449-502, 2018.
KÜSTER, B. P. #FORABUTLER – A criadora da ideologia de gênero vem ao Brasil. 2017. (9m35s). Disponível em: <https://bit.ly/3diwa7a>. Acesso em: 25 jul. 2021.
LEITÃO, D. K.; GOMES, L. G. Etnografia em ambientes digitais: perambulações, acompanhamentos e imersões. Antropolítica, Niterói, n. 42, p. 41-65, 2017.
LOTMAN, Y. Caza de brujas: la semiótica del miedo. Revista de Occidente, Madrid, n. 329, p. 5-33, 2008.
MACHADO, M. D. C. O discurso cristão sobre a “ideologia de gênero”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 26, n. 2, e47463, 2018.
MIGUEL, L. F. Da “doutrinação marxista” à “ideologia de gênero”: Escola sem Partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro. Direito & Práxis, Rio de Janeiro, v. 7, n. 15, p. 590-621, 2016.
MISKOLCI, R. Exorcizando um fantasma: os interesses por trás do combate à “ideologia de gênero”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, e185302, 2018.
MISKOLCI, R.; CAMPANA, M. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Sociedade e Estado, Brasília, v. 32, n. 3, p. 725-748, 2017.
MISKOLCI, R.; PEREIRA, P. P. G. Quem tem medo de Judith Butler? A cruzada moral contra os direitos humanos no Brasil. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, e185300, 2018.
NEVES, F. Como o “kit gay” ajudou Damares Alves a chegar ao primeiro escalão. The Intercept Brasil, 12 dez. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3c6O0sT>. Acesso em: 25 jul. 2021.
PASSARINHO, N. Governo não fará “propaganda de opção sexual”, diz Dilma sobre kit. G1, 26 maio 2015. Disponível em: <https://glo.bo/2O9EeMR>. Acesso em: 25 jul. 2021.
PEREIRA, P. P. G. Judith Butler e a pomba-gira. Cadernos Pagu, Campinas, n. 53, e185304, 2018.
PRAZERES, L. Google determinou desmonetização de canal de blogueiro bolsonarista investigado pelo STF. O Globo, 12 ago. 2020. Disponível em: <https://glo.bo/3iKNKSj>. Acesso em: 25 jul. 2021.
PROFESSORAS FORÇAM MENINO de 6 anos a passar batom (veja o vídeo). Jornal da Cidade, on-line, 27 out. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/3c2Yd9y>. Acesso em: 25 jul. 2021.
QUEM Somos. Escola Sem Partido. Disponível em: <http://escolasempartido.org>. Acesso em: 25 jul. 2021.
QUÉRÉ, L. Entre facto e sentido: a dualidade do acontecimento. Trajectos, Lisboa, v. 6, p. 59-75, 2005.
RICHARDS, J. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Tradução de Marco Antonio Esteves da Rocha e Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.
SCHRADIE, J. The Revolution That Wasn’t: How Digital Activism Favors Conservatives. Cambridge: Harvard University Press, 2019.
TUFEKCI, Z. YouTube, the Great Radicalizer. The New York Times, 10 mar. 2018. Disponível em: <https://nyti.ms/3qVu949>. Acesso em: 25 jul. 2021.
TWITTER E FACEBOOK suspendem contas pró-Bolsonaro por decisão de Moraes. Poder360, 24 jul. 2020. Disponível em: <https://bit.ly/30ZnET2>. Acesso em: 25 jul. 2021.
VERÓN, E. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2005.
Téléchargements
Publié-e
Comment citer
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Tous droits réservés Marlon Santa Maria Dias, Alisson Machado 2021
Cette œuvre est sous licence Creative Commons Attribution - Pas de Modification 4.0 International.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais, científicas, não comerciais, desde que citada a fonte.
Autoria
Entende-se como autor todo aquele que tenha efetivamente participado da concepção do estudo, do desenvolvimento da parte experimental, da análise e interpretação dos dados e da redação final. Ao submeter um artigo para publicação na Revista E-Compós, o autor concorda com os seguintes termos: 1. O autor mantém os direitos sobre o artigo, mas a sua publicação na revista implica, automaticamente, a cessão integral e exclusiva dos direitos autorais para a primeira edição, sem pagamento. 2. As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões da revista. 3. Após a primeira publicação, o autor tem autorização para assumir contratos adicionais, independentes da revista, para a divulgação do trabalho por outros meios (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), desde que feita a citação completa da mesma autoria e da publicação original. 4. O autor de um artigo já publicado tem permissão e é estimulado a distribuir o seu trabalho on-line, sempre com as devidas citações da primeira edição.
Conflitos de interesse e ética de pesquisa
Caso a pesquisa desenvolvida ou a publicação do artigo possam gerar dúvidas quanto a potenciais conflitos de interesse, o autor deve declarar, em nota final, que não foram omitidas quaisquer ligações a órgãos de financiamento, bem como a instituições comerciais ou políticas. Do mesmo modo, deve-se mencionar a instituição à qual o autor eventualmente esteja vinculado, ou que tenha colaborado na execução do estudo, evidenciando não haver quaisquer conflitos de interesse com o resultado ora apresentado. É também necessário informar que as entrevistas e experimentações envolvendo seres humanos obedeceram aos procedimentos éticos estabelecidos para a pesquisa científica. Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros. Os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores. Os direitos de licenciamento utilizados pelo periódico consistem na licença Creative Commons Attribution 4.0 (CC BY 4.0): são permitidos o acompartilhamento (cópia e distribuição do material em qualqer meio ou formato) e adaptação (remix, transformação e criação de material a partir do conteúdo assim licenciado para quaisquer fins, inclusive comerciais.