Jornalismo, misoginia e a revitimização da mulher
DOI:
https://doi.org/10.30962/ec.2555Palavras-chave:
Mídia, Violência de gênero, Misoginia, EnquadramentoResumo
O objetivo deste artigo é discutir o jornalismo como instância promotora da revitimização de mulheres que acusam homens de violência. Com o apoio de um quadro teórico de estudos antropológicos, históricos e filosóficos sobre gênero e emoções, argumentamos que tal modus operandi do jornalismo funciona como elo do que chamamos de cadeia comunicativa de misoginia. A reflexão se baseia em um estudo de caso envolvendo matérias do portal G1 sobre a acusação de agressão feita por Poliana Bagatini, em 2017, contra o cantor Victor Chaves (seu marido à época) e a posterior condenação do acusado, em 2020. A metodologia está fundamentada na teoria do enquadramento e na compreensão bakhtiniana do discurso.
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